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“Tradwife” e “esposa-troféu”: por que o glamour nas redes está afastando mulheres do trabalho

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Um estilo de vida retrô que viralizou

Os vídeos são impecáveis: mesas de café da manhã montadas do zero, vestidos rodados que remetem aos anos 1950, casas sem um grão de poeira. Nas telas, a “esposa tradicional” — ou tradwife — se apresenta como a mulher que abdica da carreira para se dedicar ao lar, enquanto o marido assume sozinho o papel de provedor. Paralelamente, a “esposa-troféu” ostenta rotina de luxo, corpo esculpido e total liberdade de tempo, sustentada integralmente pelo parceiro. As duas figuras, embora diferentes na estética, compartilham um ponto crítico: a renúncia à independência financeira.

Quem é a tradwife?

  • Inspirada no modelo doméstico feminino dos anos 1950;
  • Defende que a mulher cuide da casa e dos filhos em tempo integral;
  • Considera a feminilidade tradicional empoderadora;
  • Rejeita a pressão moderna por carreira e autonomia econômica;
  • Exibe rotina de submissão, valores conservadores e estética retrô.

E a esposa-troféu?

  • Geralmente jovem e altamente focada em autocuidado e beleza;
  • Mostra viagens, compras e tempo livre abundante;
  • Delega tarefas domésticas, evidenciando um cotidiano sem “louça ou vassoura”;
  • Relaciona status ao parceiro rico que banca casa, carro e conforto;
  • Transforma o corpo em cartão de visita e símbolo de sucesso.

Os perigos mascarados pelo feed perfeito

A adesão a esses papéis é muitas vezes apresentada como escolha livre: desacelerar, viver a maternidade sem culpa e resgatar a “feminilidade” de outra era. Contudo, especialistas alertam para impactos que raramente aparecem nos vídeos:

  1. Dependência econômica – Sem renda própria, a mulher perde autonomia e fica vulnerável em separações ou imprevistos;
  2. Perda de poder de decisão – O parceiro provedor tende a concentrar controle financeiro e, por extensão, decisões do dia a dia;
  3. Valorização da aparência – Beleza e docilidade viram moeda social, ofuscando conquistas pessoais;
  4. Nostalgia seletiva – O modelo idealizado dos anos 1950 ignora o contexto histórico de menos direitos e voz feminina.

Saída silenciosa do mercado de trabalho

A professor​a Misty Heggeness, da Universidade do Kansas, analisou dados que mostram queda de quase 3 pontos percentuais na participação de mães entre 25 e 44 anos com filhos pequenos nos Estados Unidos entre janeiro e junho. O recuo levou o índice ao patamar mais baixo em mais de três anos. Entre os fatores apontados, estão:

  • Fim do trabalho remoto conquistado na pandemia;
  • Exigência de presença integral no escritório;
  • Dificuldade de conciliar jornadas profissionais e cuidados infantis.

Números que acendem o alerta

  • Desde janeiro de 2025, mais de 200 mil mulheres deixaram o emprego nos EUA;
  • A maior saída ocorreu entre negras e jovens de 25 a 34 anos;
  • Relatório State of Motherhood 2024 indica que 66% das mães pensaram em abandonar a carreira por estresse e custo com filhos;
  • Entre mães da Geração Z, o índice sobe para 82%.

Proteção financeira é liberdade de escolha

Planejar as finanças, manter renda própria ou firmar acordos pré-nupciais flexíveis são estratégias citadas como garantia de segurança. O objetivo não é demonizar a decisão de ficar em casa, mas assegurar que ela não resulte em vulnerabilidade. A vida muda, filhos crescem, casamentos podem terminar, e a estabilidade econômica possibilita continuar escolhendo o caminho que faça sentido em cada fase.

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