Um comentário nas redes que virou termômetro cultural
Bastou Beyoncé aparecer no Grande Prêmio de Las Vegas, em novembro de 2025, com um macacão justo e decotado para uma enxurrada de críticas sobre seu peso, seios e coxas dominar as timelines. A reação, rápida e violenta, expôs a rigidez de um novo padrão corporal que ganha força: a valorização da magreza extrema impulsionada por medicamentos emagrecedores.
Nova corrida pela silhueta ultra-fina
- Medicamentos que prometem perda de peso relâmpago se popularizaram em farmácias e redes sociais.
- O mercado global desses fármacos foi avaliado em US$ 13,84 bilhões em 2024.
- A projeção é que o faturamento alcance US$ 48,84 bilhões até 2030.
Com resultados visíveis em poucas semanas, celebridades e usuários anônimos passaram a exibir corpos cada vez menores, criando o que muitos chamam de “corpo de Ozempic”. O modelo, rapidamente naturalizado, reordena a percepção coletiva do que seria o corpo ideal.
Impactos imediatos no consumo e na moda
O reflexo aparece:
- Roupas ganham modelagens menores para acompanhar a demanda.
- Marcas ajustam grades, priorizando tamanhos reduzidos.
- Corpos que não se encaixam nesse recorte sofrem julgamento público.
Beyoncé como alvo: mais do que uma crítica isolada
Desde o início da carreira, as curvas da artista nunca coincidiram com a estética magérrima popular nos anos 2000. Ao surgir com medidas fora do padrão atual, Beyoncé tornou-se símbolo de um incômodo social mais amplo: a intolerância a qualquer corpo que não siga a tendência da vez.
A interseção entre estética e racialização
Corpos de mulheres negras costumam ser hipersexualizados, superobservados e raramente classificados como “ideais” por padrões hegemônicos. A patrulha em torno da cantora expõe como raça e gênero influenciam a vigilância sobre a forma física.
Retorno de um passado recente
Nos anos 2000:
- Revistas destacavam celulites e “defeitos” em manchetes.
- Paparazzi buscavam variações de peso para vender fotos.
- Perder alguns quilos virava entretenimento de massa.
O avanço do body positive a partir de 2015 parecia ter freado essa lógica. Porém, o revival de tendências Y2K resgatou também o culto à magreza extrema.
Números que confirmam o retrocesso
Em 2024, apenas 0,8 % dos 8.763 looks das principais semanas de moda foram plus size, segundo levantamento da Vogue. A indústria, que ensaiou incluir tamanhos maiores, agora reduz novamente o espaço para a diversidade corporal.
O papel das redes na vigilância contínua
TikTok, Instagram e X amplificam discursos gordofóbicos, criam microtendências corporais e aceleram ciclos de insatisfação. A cada novo “ideal” viralizado, usuários sentem a pressão de acompanhar padrões cada vez mais inalcançáveis.
Quando o alvo é Beyoncé, o alerta é geral
Se até uma das artistas mais influentes do planeta vira alvo por simplesmente existir fora da magreza farmacológica, evidencia-se um padrão que não admite variações. O debate em torno de seu corpo revela uma sociedade que, em vez de avançar na inclusão, mostra sinais de retrocesso ao validar novamente a estética da restrição extrema.
Imagem: Internet

