O calendário marca a contagem regressiva para o início do verão no Brasil — 21 de dezembro — e, com ele, a corrida pelo “corpo dourado” domina praias, piscinas e redes sociais. Porém, entre filtros reluzentes e fotos com brilho extra, surge um alerta médico cada vez mais urgente: a tanorexia. A condição une compulsão, distorção de autoimagem e riscos sérios à pele, transformando a estação mais festejada do ano em terreno fértil para problemas de saúde.
O que é tanorexia?
Tanorexia é definida como um transtorno comportamental em que a pessoa se torna obcecada por manter a pele bronzeada o tempo todo, mesmo fora do período de calor intenso. A dermatologista Denise Ozores, especialista em beleza natural e estética consciente, descreve o quadro como “uma distorção da imagem corporal”: o indivíduo julga estar pálido ainda que apresente um tom já muito escuro. Esse olhar distorcido faz com que a busca pelo bronze vire prioridade absoluta, custe o que custar.
Como o vício se manifesta
- Incômodo ou tristeza ao se ver “claro demais” no espelho;
- Exposição prolongada ao sol sem proteção adequada;
- Bronzeamentos improvisados em lajes ou locais sem segurança;
- Procura por procedimentos de origem duvidosa para acelerar o tom;
- Negligência aos sinais de queimadura, descamação ou ardência.
Em muitos casos, a pessoa sabe do exagero, mas prefere arriscar a saúde para não aparecer “branca” em fotos de fim de ano ou em viagens.
Redes sociais ampliam a pressão estética
A lógica que predomina nas plataformas digitais é clara: quanto mais dourada a pele, mais saudável e atraente o perfil parece. Ozores ressalta que o “glow perfeito” visto na tela frequentemente deriva de filtros, edição de imagem ou anos de dano solar acumulado. Essa comparação cria pressão silenciosa, sobretudo em mulheres e jovens, que tentam reproduzir na vida real um padrão artificial.
Verão e câncer de pele: combinação de risco
Com radiação ultravioleta (UV) mais intensa e maior tempo ao ar livre, o verão concentra os casos mais críticos de câncer de pele no país. Dezembro Laranja, campanha nacional de prevenção, reforça a necessidade de atenção. A principal causa do tumor — o mais frequente em território brasileiro — é justamente a exposição excessiva e desprotegida ao sol. “Vejo o câncer de pele virar o câncer da vaidade”, comenta a dermatologista ao relatar pacientes que admitem preferir o bronze a evitar a doença.
Formas seguras de aproveitar o sol
Curtição e proteção podem andar juntas. A chave, segundo especialistas, é redefinir a relação com o sol:
Imagem: Marilise Gomes
- Filtro solar diário: usar FPS adequado ao tipo de pele e reaplicar a cada duas horas ou após mergulhos.
- Acessórios de barreira: chapéus, viseiras e óculos com proteção UV reduzem a incidência direta.
- Sombra amiga: buscar áreas cobertas, especialmente entre 10h e 16h, quando a radiação é mais forte.
- Hidratação constante: manter ingestão de água ajuda a pele a se recuperar de agressões externas.
- Limites reais: reconhecer quando a cor desejada já foi atingida e evitar sessões prolongadas de exposição.
“O verdadeiro glow é da pele saudável, não da pele queimada”, reforça Ozores, destacando que beleza não deve estar associada a um tom específico — cada pessoa tem seu tom natural único.
Quando buscar ajuda profissional
Se o desejo por bronze compromete rotinas, causa ansiedade ou leva a comportamentos de risco, é hora de procurar orientação médica e, em alguns casos, suporte psicológico. Dermatologistas podem indicar alternativas seguras — como autobronzeadores aprovados — e tratar lesões já instaladas. Psicólogos, por sua vez, auxiliam no resgate de uma autoimagem mais equilibrada.
Resumo rápido
- Tanorexia é obsessão por estar bronzeado, acompanhada de distorção de imagem.
- Risco principal: aumento exponencial de câncer de pele.
- Redes sociais intensificam o ideal do “dourado saudável”, muitas vezes irreal.
- Proteção solar, acessórios e horários seguros permitem curtir o verão sem adoecer.
Com informação, autocuidado e limites bem definidos, é possível aproveitar plenamente os dias de sol sem transformar a pele em campo de batalha.

Escrito por Neide Souza
Fonte: Purepeople

